1. Nota introdutória: literatuta tradicional de transmissão oralA tradição oral, durante séculos, tornou-se um veículo fundamental de partilha, no seio de uma comunidade, de conhecimentos e crenças, de cariz religioso, social e, também, educacional.
O provérbio constitui uma das formas discursivas que foram passando, através da oralidade, de geração em geração, englobando, assim, o conceito de literatura tradicional de transmissão oral. São ditados populares que, geralmente, servem como aconselhamentos, pois transmitem uma ideia ou pensamento. Devido ao carácter popular dos provérbios, estes são considerados a “voz do povo” e a “voz da verdade”.
A promoção da literatura tradicional na escola é necessária e pode-se tornar um meio de fomentação da interacção família-escola, já que a própria escola poderá proporcionar uma participação mais activa da família, como, no caso dos provérbios, da recolha, por parte dos alunos, de provérbios por parte dos familiares ou até a experiência de levar familiares dos alunos até à escola, para estes falarem de algum(ns) provérbio(s) que lhe lembra(m) algum acontecimento marcante na sua vida.
2. Livros abordados e analisados:
a - "Provérbios ilustrados", texto de Luísa Ducla Soares e ilustrações de Luísa Beato;
b- "Provérbios coloridos", texto de Tiago Salgueiro e ilustrações de Elsa Navarro;
c - "A Boca no Trombone", texto de Vergílio Alberto Vieira e ilustrações de Marta Madureira.
a) A obra resulta de uma selecção da autora Luísa Ducla Soares (figura de destaque na defesa da importância da transmissão da sabedoria popular de geração em geração), em que os 66 provérbios seleccionados se encontram ilustrados de forma notável por Luísa Beato. Este livro pretender dar a conhecer às crianças e jovens alguns dos mais sugestivos ou curiosos provérbios portugueses, em que cada um destes apresenta uma mensagem (mensagem esta explicada nas últimas páginas do livro). Os temas, no provérbio, e não na explicação, vão desde a alimentação à presença da figura humana, passando pela presença da figura animal, os 12 meses do ano a objectos que utilizamos no dia-a-dia até emoções.
Pistas de trabalho
- 1 de Outubro de 2010: abordagem ao conceito de provérbios e pedido de recolha de provérbios junto de familiares e vizinhos;
- 8 de Outubro de 2010: análise dos vários provérbios recolhidos pelos alunos;
- 15 de Outubro de 2010: criação de uma história em torno de um provérbio;
- 22 de Outubro de 2010: actividade "Os objectos tornam-se provérbios";
- 29 de Outubro de 2010: apresentação do livro "Provérbios ilustrados";
- 5 de Novembro de 2010: análise das ilustrações da obra abordada na aula anterior;
- 12 de Novembro de 2010: actividade "A sacola proverbial";
- 26 de Novembro de 2010: actividade "Os provérbios andam à solta" ; preparação da peça de teatro ***
Textos possíveis para a peça de teatro:
Cena 1
Narrador 1: A Mariana e o Pedro, dois primos com 10 anos, foram fazer um grande favor à avó.
Mariana: A vizinha Guilhermina está sempre a dar ovos à avó e, enquanto não os vamos buscar, ela não descansa. Telefona todos os dias à avó e diz-lhe “Ó Maria veja lá se manda os seus netinhos cá a casa, para levar os ovinhos, que são tão fresquinhos.”
Pedro: Tens razão. Vê lá se te apressas, porque hoje o almoço é omeletas e sabes bem que “Não se fazem omeletas sem ovos.”
Mariana: Sim, sim, vamos lá andar mais depressa. E tu “Não ponhas todos os ovos no mesmo cesto.”.
Narrador 1: Saídos da casa da Dona Guilhermina, a Mariana estava apática, com o cesto de ovos na mão, nem uma palavra pronunciava.
Pedro: O que se passa Mariana? O cão da Dona Guilhermina deixou-te sem palavras.
Mariana: Não sabia que a Dona Guilhermina tinha cães, muito menos um que ladra tanto...
Pedro: Óh prima, nunca ouviste dizer que “Cão que ladra não morde”?
Cena 2
Narrador 2: No miradouro de Viana do Castelo, são muitos os estrangeiros que por lá passam. De ingleses a italianos, passando pelos brasileiros. Mas os portugueses, e os próprios habitantes de Viana do Castelo, também por lá passeiam.
Carla: A paisagem é maravilhosa.
Filomena: Sim, é verdade. Olha, aqui também tem binóculos. É só colocar 1 euro e, pronto, já temos uma vista melhor sobre a cidade.
Estes binóculos estão a funcionar bem...olha, olha ali ao fundo vêem-se várias gaivotas...que lindas...todas a voar em conjunto. Mas espera lá...não davam bom tempo para esta semana?! É que já a minha avó dizia “Gaivotas em terra, tempestade no mar”.
Cena 3
Narrador 3: O Joaquim, um menino de 12 anos, que vivia sozinho com a sua mãe, não gostava nada quando esta saía de casa para ir trabalhar. Ele, apesar de se armar em forte, não passava de um medricas, que se escondia debaixo da cama ao mínimo barulhinho.
Joaquim: Só espero que hoje a minha mãe não demore tanto como das outras vezes.
Narrador 4: Apenas o Joãozinho, o seu amigo da escola, sabia que ele era um medricas e então dizia-lhe “Quem tem medo compra um cão.”
Joaquim: Como vivo num apartamento, a minha mãe não me deixa ter animais de estimação.
Narrador 4: A mãe ainda não chegara, mas a campaínha soou.
Joaquim (com a voz a tremer): Quem é?
Avó: Sou a avó Mafalda...abre a porta querido.
Narrador 4: O Joaquim, reconhecendo a voz da avó, abre a porta.
Avó: A tua mãe ligou-me, para dizer que estás sozinho em casa. Então, decidi fazer-te uma visitinha e adivinha o que trouxe? Biscoitinhos. Ah, e o teu avô pediu para que eu te desse estes 5 eurinhos, já sabes como ele é e o que ele diz ... “De tostão em tostão se chega ao milhão”.
Cena 4
Narrador 5: A Dona Rafaela, proprietária de uma quinta no Ribatejo, era bastante invejada pelas suas vizinhas...os animais da quinta estavam tão bem tratados...
Manuela: Ó Carlota, tu já viste ali os porcos, os cavalos, as vacas da Dona Rafaela...que grandes e que lindos. E as galinhas...devem dar uns ovos bem jeitosinhos.
Carlota: Tens razão...
Manuela: E aqueles porcos...eu cá não sou de comentar nem de falar de ninguém, mas que ela tem um luxo de animais tem.
Ana: As vizinhas têm razão...a Dona Rafaela cuida muito bem da quinta, só é pena aquele marido, o Senhor Manuel, não lhe dar valor. Passam a vida a discutir, mas, como empregada que sou, não digo nada, sabem que “Entre marido e mulher nunca metas a colher.”
Cena 5
Narrador 6: O Miguel, um jovem de 21 anos, raras vezes ia ao cabeleireiro, mas quando ia...fazia sempre algo de inovador no seu cabelo. Ora pintava, ora cortava demais, ora esticava...Quem não gostava nada era a sua mãe, a Dona Sara.
Sara: Então filho, quando vais cortar esse cabelo?
Miguel: Já que falas nisso, vou hoje. Preciso de mudar, de inovar...se é que me entendes mãe.
Sara: Claro Miguel, mas vê lá o que fazes a esse cabelo.
Narrador 6: Entretanto, o Miguel chega do cabeleireiro.
Sara: Filho, filhooooooooo...o que fizeste ao teu cabelo???
Miguel: Não vês mãe, rapei-o. Agora, sou careca!
Sara: Ai, que tu não tens juízo nenhum.
Miguel: O pai sempre me disse “É dos carecas que elas gostam mais”.
Sara: Às vezes, não devias seguir os conselhos do teu pai, sabes que “A palavras loucas, orelhas moucas” filho.
Cena 6
Narrador 7: O David é o mais traquina e aventureiro dos meninos da sua escola. Se fosse para brincar com lama, terra, areia ele brincava. A sua mãe bem o avisava dos perigos, mas ele nada.
David: “Palavras leva-as o vento.”
Mãe: Um dia, ainda te aleijas a valer. Já te contei quando te queimaste no dia em que fizemos o piquenique perto da casa dos teus avós? Eras pequenino, mas já fazias das tuas e pregavas uns valentes sustos.
David: Sim, mãe já contaste. E sempre que se fala nisso a tia Bernardete diz “Quem brinca com o fogo queima-se”.
Mãe: Devias dedicar-te mais aos estudos, em vez de andares a fazer malandrices. Sabes que “Bom livro, bom amigo”
b) O livro “Provérbios Coloridos” contém 352 provérbios populares, transmitidos oralmente de geração em geração. Muitos dos provérbios presentes nesta obra estão incompletos que, com a ajuda das maravilhosas ilustrações de Elsa Navarro, conseguimos chegar à solução; outros provérbios são criados através de pictogramas que substituem as palavras; ilustrações com um constante dinamismo, uma vez que as imagens transmitem a sensação de movimento como a dança e as acrobacias circenses e forte componente imaginária, onde se destacam motivos e figuras de animais, quase sempre vestidas e com expressões faciais humanas. Cada uma destas figuras apresenta-se em posições improváveis e, por vezes, absurdas, dando a percepção de que humanos e animais vivem em plena harmonia e na mesma sociedade, com os mesmos gostos interesses;Muitos são os temas apresentados nesta obra: a figura animal em junção com a figura humana, os meses do ano, assim como épocas festivas e o dinheiro.
Pistas de trabalho
- 14 de Janeiro de 2011: distribuir um provérbio por cada aluno, do livro "Provérbios coloridos" e pedir para ilustrá-lo:
- 28 de Janeiro de 2011: dar a conhecer o livro “Provérbios coloridos” e construção de uma história em grupo tendo em conta os diferentes provérbios sorteados para cada elemento do grupo;
- 11 de Fevereiro de 2011: criação do "Muro Proverbial";
- 25 de Fevereiro de 2011: actividade "O enigma anda à solta na escola";
- 11 de Março de 2011: actividade "as t-shirts proverbiais".
c) No livro “Boca no Trombone” podemos encontrar 202 provérbios, reescritos e reinventados pelo autor, pois todos são alterados e, através da reescrita e reinvenção de vários provérbios populares portugueses, o autor introduz-nos num mundo completamente divertido, irónico e, sobretudo, imaginativo, alguns completos com a ironia das ilustrações de Marta Madureira.
Em 46 páginas do livro apenas se encontram ilustrações nas páginas 17, 21, 27 e 31, sendo estas bastante coloridas e sobressaindo o amarelo nas 4 ilustrações do livro. Nos desenhos nota-se o recurso a diversos materiais, como tintas mas também objectos do dia-a-dia, nomeadamente um colar de pérolas, sapatos de mulher, ovos, uma cruz da igreja e uma garrafa de vinho (sendo imagens reais, talvez digitalizadas). Os temas são variados, como o dinheiro, figura humana e suas atitudes; figura animal; objectos, o corpo humano ou até sobre festividades.
Pistas de trabalho
- 8 de Abril de 2011: adaptação de provérbios fornecidos pelas professoras;
- 22 de Abril de 2011: apresentação do livro “A boca no trombone” e análise dos provérbios do livro;
- 6 de Maio de 2011: actividade "Provérbios em família";
- 20 de Maio de 2011: actividade: “Peddy-paper dos Provérbios no Trombone”;
- 3 de Junho de 2011: análise das ilustrações contidas no livro acima referido e ilustração dos provérbios;
- 17 de Junho de 2011: actividade: “Memória Proverbial” – relembrar as três obras estudadas e qual a sua relação.
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Leituras complementares
1. "O camaleão preguiçoso", de Vergílio Alberto Vieria
“Da autoria de Vergílio Alberto Vieira, um dos mais originais poetas contemporâneos para a infância, este volume integra uma narrativa que, fugindo aos estereótipos do género, se centra na caracterização de um animal, o camaleão, dando particular destaque à sua personalidade e à forma como interage com os seus companheiros na Natureza. Trata-se, por isso, de um conto que não segue propriamente uma estrutura sequencial, optando por, de forma mais ou menos episódica, incluir pequenos elementos narrativos que ajudam à caracterização do seu original protagonista. Destaquem-se, ainda, a linguagem e o registo do autor, muito ricos e capazes, pelos jogos de palavras e de ideias, de sugerirem humor e a adesão dos leitores. As imagens complementam o texto, apostando numa leitura de cariz mais feérico e menos realista, ainda que o texto alimente uma leitura de fundo ecológico, capaz de valorizar a especificidade da natureza e a riqueza – mesmo quando estranha – das espécies que a integram.”
(Casa da Leitura)
2" (Im)provérbios", de João Manuel Ribeiro
“Apresentada como um álbum de reduzido formato, esta edição reinventa e recria uma série de provérbios da tradição, propondo uma leitura paródica e alternativa de textos muito conhecidos. Explorando uma outra forma de ver a realidade – diferente da forma estereotipada e, às vezes, preconceituosa, deste tipo de textos –, o autor cria novas leituras e promove a reflexão sobre questões tidas como verdades inquestionáveis… As ilustrações procuram, de forma simples mas expressiva, recriar algumas das ideias centrais dos textos, apostando, em particular, nas dicotomias que os estruturam. Atendendo ao intertexto que está na base, a leitura deste volume terá que ser acompanhada por um mediador adulto que explique o jogo que estrutura os textos.”
(Casa da Leitura)
3. "365 Histórias", de José Viale Moutinho
“Um texto da tradição portuguesa para cada dia do ano – eis o que que se encontra guardado neste livro, com assinatura de José Viale Moutinho, uma obra em formato extenso, capa dura e expressivas ilustrações de João Caetano. Reúnem-se aqui contos, lendas, provérbios, lengalengas, adivinhas, travalínguas, cantigas, orações, jogos, significados de flores ou nomes de pessoas, entre outros, textos típicos de lugares diferentes, alguns mais conhecidos, outros menos, mas todos ligados pela origem oral e popular. A temática naturalista, a forte presença animal, a sabedoria do senso comum, o jogo – de fonemas e de sentidos, por exemplo – e o humor são alguns dos elementos comuns a estes textos repartidos pelo calendário. “
(Casa da Leitura)
4. "O Livro dos provérbios I" e "O Livro dos provérbios II", de António Mota
“A recolha dos provérbios do nosso património popular, registada nos dois volumes desta obra, ultrapassa o milhar. Em cada um deles a ordenação é feita por ordem alfabética, o que facilita a sua procura. Intencionalmente, a última palavra ou expressão que finalizam o provérbio estão ocultadas, estimulando a criança para a descoberta; a solução encontra-se em rodapé, o que torna acessível a procura.”
(Casa da Leitura)
5. "O Livrinho dos provérbios", de José Viale Moutinho
“Há grossos livros de recolhas de provérbios – também chamados adágios, anexins, ditados – que pertencem à tradição oral, mas para aqui interessava sobretudo fazer uma antologia de introdução a estes saberes, de despertar o interesse por mais este item da nossa riqueza. Para tanto, procurámos que esses provérbios tivessem a força da verdade mesmo no nosso tempo, evitando conceitos há muito ultrapassados.”
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